Os Napoleões de Hospício

Segurança Patrimonial

Como um dos pouquíssimos ou único engenheiro da humanidade a comandar diretamente 2.500 peões (encarregados não-engenheiros, oficiais carpinteiros, armadores e seus ajudantes) além da amizade angariada granjeamos um grande consolo: megalomania à parte, transformamo-nos num dos mais profundos conhecedores da alma humana da Época.
Devido à rotatividade tínhamos que contratar e apertar a mão de uns 70 profissionais por dia. Freud não atendia nem a metade disto.
Nos poucos segundos que dispúnhamos, durante o aperto de mão, perscrutávamos a firmeza (e competência) do recém-chegado, sua predisposição ao trabalho, capacidade de mentir, grau de dissimulação (ou inutilidade moral), capacidade de respeitar o chefe, genialidade, generosidade, geniosidade, etc. Um retrato profissional quase completo, mesmo que ofuscado pela humildade que brilhava em seus olhos e nos comovia (na verdade a chave de nosso aprendizado. Somos tão humildes que nem aceitamos ninguém mais humilde que nós).
De prático não ganhamos nenhum tostão com isso, antes corremos risco por aprender (e praticar) certas generalizações, como:
* Tocar obra é ser admirado pelos peões que comandam a produtividade.
Os grandes Engenheiros de Obra são os que se confundem com eles, que têm o mesmo cheiro e identidade, enfim, que não impedem o seu trabalho. O resto é canja da galinha.
* Parte dos engenheiros das capitais do Sul do País, por mais famigeradas que sejam suas Faculdades de origem, não tem qualificação para tocar obras: vão com armas de fogo ao campo, com medo de apanhar dos peões.
Com razão: acham que só se adquire respeito castigando-os, nada mais improdutivo (e perigoso) em obra.
Tiremos o chapéu aos Nordestinos. Nortistas e, principalmente, aos engenheiros das micro-cidades do interior, pelo discernimento, de berço, na matéria.
* Os preconceituosos, que odeiam pobres e outras minorias escolheram errado a profissão. Nadam na maionese. Na verdade sentem medo e detestam a humanidade inteira, formada, para eles, só de bandidos.
Irritam-se até com o humor, que é a vitamina dos peões.
* Falemos, como exemplo, em SEGURANÇA DE OBRA!
Compararemos nossa obra atual, uma residência de 320m², com outra ao lado, possivelmente de algum psiquiatra enrustido, com 640m². Ambas situadas no Cafundó do Judas.
O proprietário acha que é Napoleão. Um desvario: como comprovamos acima, Napoleão Bonaparte somos nós.
Os fatos:
1) Por 5 vezes fomos roubados este ano: foram 3 padrões de energia elétrica, algumas vigas de laje e uma Makita usada do empreiteiro. Subtraíram-nos um total de R$ 900,00 ou o equivalente a R$ 75,00 / por mês. Um horror, segundo os padrões moralistas.

2) Já o vizinho, que garante nunca ter sido roubado, gasta R$ 200,00 / mês com o aluguel dos tapumes, R$ 250,00 com container, R$ 300,00 de monitoramento, R$ 350,00 / mês com câmaras e equipamentos (diluídos em 12 meses), ou seja, R$ 1.100,00 / mês para deixar em segurança sua obra.

Gastamos em 25 dias o que gastamos em 1 ano.
Pretendemos economizar ainda mais se encontrarmos o ladrão e oferecer-lhe R$ 65 para parar de nos roubar. Amizade é tudo: ele até poderá dormir na obra para monopolizar o pedaço e não perder a boquinha.

3) Moral da História
Ser megalomaníaco é normal. Ter medo e monitorar a própria sombra é aceitável. É a burrice a maior das psicopatias: acreditar que as pessoas não são más, nem tão bandidas como apregoa a TV, não é apenas um ato de solidariedade humana. É lucro garantido!

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